segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O que poderia ter sido ou Post da separação


O que poderia ter sido, está na estante, imóvel na sua condição de objeto
O que poderia ter sido, está no porta retrato, estampando a alegria de quando tudo ainda não era absurdo
O que poderia ter sido, está ainda na geladeira- perecível, perecendo, a espera de alguém que o jogue fora- um de nós dois (quem?)
O que poderia ter sido, ainda está pregado na parede, enfeitando cantos
O que poderia ter sido está na cama desarrumada, no sofá rasgado, na almofada bonita que trouxemos de viagem
O que poderia ter sido é uma parede azul, muito mal pintada por nossas mãos sem habilidade
O que poderia ter sido está nas roupas da última gaveta, aquelas que não nos veste mais
O que poderia ter sido está nos livros e em todas as histórias não originais, que, como a nossa, também terminam.
O que poderia ter sido em breve estará em caixas de papelão, em sacos de lixo, em outro endereço
O que poderia ter sido está espalhado por essa casa, que em breve abandonaremos e pra onde nunca mais voltaremos
O que poderia ter sido virará uma linha fina de esquecimento e um dia morrerá na curva, não sem lamentar para sempre, o que poderia ter sido.

amor e merda

No espelho, um poema.
O banheiro branco e iluminado diante da promessa de amor, escrita a batom.
Mas também tinha o cesto, cheio de lixo.

E assim ficou,
amor e merda.

domingo, 4 de março de 2012

Quando você foi embora

Quando você foi embora, eu estava jantando. A luz do corredor era a única iluminação da casa.
A porta não bateu, os vizinhos não ouviram gritos, não houve choro, nem chuva, nem recaídas, nem cigarros, quando você foi embora.
Seu prato ainda estava cheio, você andava sem apetite, quando você foi embora. Nos olhamos por um tempo, até que você resolveu ligar a tevê. Assistimos toda a novela, quando você foi embora, e fomos para o quarto mais cedo, lembra?
Quando você foi embora, estávamos juntos, na mesma cama, e não houve separação. Sem despedidas, você se foi e dormimos tranquilos.
Quando você foi embora, eu percebi que você nunca mais iria embora.
Seríamos para sempre essa nossa ausência.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O resto é esforço

Daqui a pouco
não nos restará mais tempo.
É preciso tomar posse
seguir adiante
Fingir entendimento
e aumentar o volume da tv.
O  resto é esforço
E inverno.

sábado, 21 de maio de 2011

Um pingo de coragem.


E essa coragem que a vida exige?
A coragem de colocar os pingos, acabar as frases, pontuar os espaços, terminar uma sentença longa.
Me faltam pingos!
Me sobram espaços, brancos, rascunhos incompletos. Todos esperando pontuação, um fim, uma corajosa exclamação!
Tá tudo reticente demais e não há pingo nem ponto que encerre essa frase.

quinta-feira, 31 de março de 2011




Avançando, de forma irrefreável, para a casa dos 30.


Felicidade a preço de banana.


Na volta para casa, resolvi passar na feirinha. Todas às quintas-feiras ela está lá e eu quase nunca vou.
Hoje fui descendo a rua São Miguel e, na medida que avançava em direção às barracas, ia sendo abordada a cada segundo. O que poderia me incomodar, hoje decidi gostar. E adorei. Experimentei uma meia dúzia de frutas, uva, caqui, melão, manga, ameixa. A mão suja, que depois precisou pegar o dinheiro para comprar só o caqui, obrigada. 
E depois foi a vez das verduras, alhos, cebolas, feijão carioquinha. Os feirantes me ofereciam veementemente seus produtos, cada um com seu melhor preço, e, nessa matemática de dúzias, eu negava, aceitava, agradecia e adorava.

Hoje eu descobri que podia inventar minha felicidade.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A gorda e o medo.

Era o fim de um feriado morto. Nenhum lugar a pertencia, nem ela. Medo. Tomaria uma cerveja, na tentativa de. As conversas estéreis da internet eram o que bastava, no momento. A janela de casa também. Via o homem de terno que sempre saía para trabalhar (mesmo aos feriados), tentando ludibriar a própria existência. Medo. Nada tem sentido, pensava. Não, ela não amava. Não tinha vocação para o casamento, nem para as amizades. Medo. Pensava em aumentar o pacote de sua tv a cabo, eram poucos os canais, ela precisava de mais diversão. "Eu quero sair daqui", gritava rouco seu pensamento. Pensava nos filhos que ela não teria e na palavra, que não saía de sua cabeça. Medo. Olhava pacotes de viagem pela internet, apreçava cursos de inglês, yoga, drenagens. Tinha planos de emagrecer, mas isso era para quando ela estivese menos pesada. O futuro lá de longe a confortava. Um dia tudo seria melhor. Um dia teria fé, cintura, amigos e um noivo. Um dia o feriado chegaria ao fim e ela teria coragem de.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Hoje vou assim!



Meu blog nada tem a ver com moda, eu sei. Mas gosto muito do assunto e acompanho sempre um blog muito legal chamado "Hoje vou assim" e resolvi participar!

Então, hoje vou assim:

Vestido: Oh! Boy
Bolerinho: Opção
Sapato: Cris Roberto
Bolsa: Filomena



Foto: Cynthia Paulino

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tarde de sexta


Sol descobre a fresta

Canto da sala em festa.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Atira!

Você,
que inspira minha mira
retira seu alvo
da minha
ira.


domingo, 1 de fevereiro de 2009

Kátia Cunha


Punha no rascunho
sua alcunha
e supunha
ser a mulher
que preço punha.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Vocação


No nosso amor
o que é bonito
é essa vocação
para infinito.

(Tiago Tenório)

Desdito

Nada adianta ser dito:
a palavra
é um mito.

domingo, 7 de dezembro de 2008

2088

Ao invés de arroz, risoto.
Ao invés de sal, ajinomoto.
Daqui a pouco até
o controle será remoto.

Beijar

Depois de muito acenar
resolvi pegar
o seu beijo
no ar.

sábado, 8 de novembro de 2008

Riso

Deixe-me ver
o siso
que tem dentro do seu
sorriso.

Aviso:

Não analiso,
não reviso.
Dos poemas,
apenas o improviso.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Matina

Abro a cortina
e faço do sol
minha rotina.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008



Observe o que sucede:
tudo que é vivo
fede.

Arte-ofíCIO

Artifício:
finjo meu cio
no meu ofício.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Est[amo]s

Não faço planos
não penso em anos
apenas vamos.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ciúme-mudo

Eu na tela
você na platéia
e nenhuma palavra estréia.

domingo, 15 de junho de 2008

Acaso

Corpo que vira
casa
quase vira
caso.

domingo, 8 de junho de 2008

Lupa

Culpa:
vejo meu erro
pela sua lupa.

Laço

Um abraço
e faço de você
meu outro pedaço.